Ver e ouvir


"Saber ouvir e ver - pode considerar-se isso um dom de Deus." Pv 20:12

Ver o que está por detrás do óbvio. Ouvir o que não é audível aos ouvidos de carne mas perfeitamente audível espiritualmente.

Mas será que os nossos ouvidos e olhos físicos, palpáveis, podem ver e ouvir o mundo espiritual?

Claro que sim... somos um todo. Corpo, alma e espírito são indivisíveis.

É por isso que se eu estiver alegre, estou a acrescentar saúde ao meu corpo.
É por isso que se eu estiver angustiada e preocupada, todo o meu corpo se ressente e fico disponível para uma série de doenças.

É por isso que quando eu vejo e ouço Deus, na nossa intimidade, todo o meu corpo pode sentí-lo perfeitamente.

Ou somos completamente cegos e surdos ou não o somos.

Se os teus olhos tiverem luz, todo o teu corpo terá luz... Se os teus olhos forem escuridão, todo o teu corpo será escuro.

Como posso eu ver e ouvir naturalmente o mundo espiritual? É tão simples... temer o meu Amado Deus e ser humilde. Isso me dará a sabedoria.E a sabedoria é o caminho, a chave para tudo.

Alguém que ouve e que vê é feliz, ainda que isso possa trazer sentimentos pesados.
Alguém que pode ver o que se passa por detrás de um rosto é feliz, ainda que o que vê faça sofrer.
Alguém que pode ouvir palavras que não são ditas, vive verdadeiramente.

Porque vivemos tão mediocramente? Basta sermos humildes e reverenciarmos Deus... a partir daí, começaremos a ver e a ouvir.

Oh como somos incompletos sem ver e ouvir... que infelicidade, que sentimento de vazio interior tão grande, que falta de vigor, que falta de criatividade e novidade dentro de nós mesmos... que falta de VIDA verdadeira...

Como uma fonte que jorra, assim é a vida interior que flui nas veias de quem vê e ouve!
Como uma cascata é o seu interior! Flui, flui, flui...

É tão bom voar interiormente... voar bem alto, bem alto... é isso que faz com que tudo se renove, diariamente. É isso que faz com que tudo seja sempre novidade! De Glória em Glória.

Ver e ouvir... são verdadeiramente um dom de Deus!

Espiritualidade(s)?

Quando penso em espiritualidade, imagino coisas simples.
Imagino-me sem as coisas importantes.
Sem aquilo que, sem muito esforço, me faz sorrir.
Sem aquilo que aprecio.

Não que eu tenha de associar, obrigatoriamente, a minha espiritualidade à nudez, à privação, a ter de estar sem nada, mas para mim é importante.

Não que eu tenha de medir a minha espiritualidade, porque se a fosse medir, ficaria envergonhada... Mas eu posso ter uma ideia do impacto que Deus tem na minha vida quando eu me desligo de tudo.

Eu, isolada, sozinha no meio de um deserto.

Aí, nesse lugar, quem é Deus para mim? Como me relaciono eu com Ele? Como é a nossa troca de intimidade? Será que aí, nesse lugar, Ele me faz sorrir como nos outros lugares?

Compreendo bem os monges que vivem isolados das coisas banais do mundo.
Ainda que habituada a viver numa cultura ocidental, acho que iria gostar de viver como eles. Oh sim, ia-me custar abdicar de muitas coisas, mas para a pessoa que sou, da forma como Deus me criou, viver desligada das banalidades é uma necessidade.

Relacionamento com o Pai... é algo tão especial, tão íntimo que ou existe ou não existe. Ou é real ou é ilusão.

Se eu fosse viver sozinha, como os profetas, como seria o meu relacionamento com ELE?

Sem congressos, sem seminários, sem cursos, sem irmãos, sem profecias dadas por outras pessoas, sem imposições de mãos alheias...

O que restaria?

Restariam sorrisos...

O meu sorriso é para Ti, Deus!

Simplesmente...

... calada por estas bandas mas vivendo e sentindo os últimos tempos como uma criança.

Sentada, olhando e contemplando calmamente. Às vezes as muitas palavras só atrapalham.

Há alturas de silenciar.

A própria Natureza foi feita assim. A noite é o tempo do silêncio, de ouvir apenas o vento, o mar, as árvores.

É uma altura muito boa, quando a vivemos com o coração no lugar certo, pois é uma altura de sentimentos intensos.

Sentidos


"Ele exercita-me para a batalha e põe nas minhas mãos um arco de bronze." Salmo 18:35

O meu coração constrange-se ao ver que realmente nunca serei digna de nada... por mim nunca irei a lado nenhum, nunca conseguirei nada, nunca merecerei sequer o olhar do Pai. Nunca me tornarei uma pessoa melhor! Forte?? Para mim é a mais pura verdade.

Mas, geralmente, é nesses momentos que Ele faz questão de me mostrar o quanto Ele não me abandona ainda que eu ande distraída ou "finja" andar distraída com algumas coisas.

Muito mais além do que falarmos disto da boca para fora é vivermos, é experimentarmos, é sentirmos, é absorvermos isso com todos os nossos sentidos, humanos e espirituais.

Não é por acaso que um dos meus versos preferidos é um muito simples:

"Provem e vejam como o Senhor é bom; feliz o homem que nele confia!" Salmo 34:9

E alguém que prova Deus é facilmente reconhecível... até o seu sorrir, o seu silêncio, o seu abraço transmite uma ligação ao mundo espiritual. Os que não o provam também são, infelizmente, reconhecíveis à distância. Há uma superficialidade que se sente à distância.
É tão simples ligarmo-nos ao Pai... basta-nos um coração sincero e disponível. Basta que, ainda que fracos, lhe digamos: "Pai... aqui estou..." (ainda que às vezes estas palavras sejam apenas ditas em espírito).
É na minha simplicidade que Ele coloca nas minhas mãos, sem que eu peça, sem que eu busque, um arco de bronze e me exercita para a batalha.

É na minha distracção que Ele vem, como um vento que se sente de repente, e activa mais profundamente os meus sentidos espirituais.

É na minha fraqueza e nos momentos em que não sei o que fazer que Ele vem e simplesmente me leva a fazer algo, uma vez que por mim própria eu não tenho energia nem sequer para pensar o que poderei fazer...

*suspiro*

"As armas que utilizo no combate não são apenas humanas, porque a sua força vem de Deus e deita por terra todas as fortalezas." II Co 10:4

Coração movido a simplicidade

Caminho na rua com a minha filha.


Abro a minha boca e baixinho falo contigo, agradecendo-Te por estares ali comigo e passeares connosco.

Quando vejo a sua pequenina cabecinha virar-se para trás e dizer-me apenas duas palavras: "Mãe, Jesus" o meu coração move-se, pois sei que ela quis dizer que eu estava a falar com Jesus.
Ela reconheceu que eu estava a falar contigo, meu Amado, pois já o fiz outras vezes e já lhe tinha explicado que estava a falar contigo.

O entendimento de criança é tão simples.

Sempre que eu penso no Teu sorriso, eu penso numa criança diante de Ti, sem nada para oferecer de complicado, de elaborado, sendo ela própria na sua total essência. E isso faz-Te sorrir, isso move o Teu coração.

Sempre que eu tenho de voltar à origem, eu tenho de voltar a ser como uma criança e relacionar-me contigo dessa forma.

O coração... a chave para Te conquistar!
O amor... o meio para Te conquistar!

Obrigada, Pai, porque posso estar a escrever-Te estas palavras e saborear a presença de uma criança no meu colo... a minha criança pura.

Das tuas filhinhas,

Paula e Inês